São restos de apagamentos, retalhos de memórias pretéritas, que reconfiguram imagens e mediações plásticas de projetos. O tempo fragmenta-se e o espaço comprime-se numa aleatoriedade gráfica. É um arquivo, certo, mas um arquivo que se destrói na extinção da arte, para propor algo novo – uma ideia rendilhada, um conceito que se arrasta, uma transposição ou transvase que fica enquanto condição precária, evanescente.
A convite da Umbigo, Carlos Mensil debruça-se sobre o potencial transformador e relacional do espaço de criação digital da Raum: para trabalhar o seu arquivo pessoal de projetos, fazendo da iteração, interação e sistematização virtual ferramentas de experimentação sobre a condição digital. A sua prática mecânica e sistematizante, com profundo conhecimento técnico sobre o comportamento dos materiais e as lógicas misteriosas do tempo, encontra aqui ecos, ao incidir sobre o poder do utilizador na construção, desconstrução e destruição das imagens e da informação nelas inscritas.
Neste contexto, Network_erase-to-relate é um exercício simultaneamente de destruição e de escavação, em que as camadas de conhecimento adquirem uma gravação sempre transitória: são fotografias de apontamentos, digitalizações de esquissos e desenhos documentais, registos de obras e exposições, etc. O acidental, o descuido, o imprevisto, a ilusão, a memória e os fluxos que alimentam o quotidiano, a vida, temas profusamente debatidos nas suas instalações, têm aqui uma nova presença, numa experiência radicalmente diferente da plasticidade geralmente associada à sua obra.
José Pardal Pina - Umbigo