Academia de máquinas de imaginar
e outras invenções

3 de Março de 2016 às 15h00

Atribuição de propriedades à matéria; fazê-la objeto.

9 de Março de 2016 às 22h00

Utilização do objeto; explorar orquestradamente as propriedades de diversos objetos.

16 de Março de 2016 às 22h00

Apropriação e abuso do objeto até à sua fragmentação / corrosão; manipular o objeto no sentido de o alterar à medida da criação espontânea.

23 de Março de 2016 às 22h00

Organização do erro no seu coletivo; coordenar o som da falha em orquestra. Explorar como o erro funciona individualmente, integrando-o numa rede de natureza já por si só errática, isto é, construída à base do acidente.

×

Academia de máquinas de imaginar
e outras invenções

Um Linguista propunha um modo de abolir todas as palavras, de maneira que se discutisse sem falar, o que seria favorável ao peito, porque está claro que, à força de falar, os pulmões gastam-se e a saúde altera-se. A solução, por ele achada, era carregar consigo todas as coisas e objectos de que se quisesse tratar. (…) Outro cientista desde há oito anos que estava envolvido num projecto que consistia em extrair raios de sol dos pepinos, fechá-los em recipientes herméticos e usá-los para aquecer o ar em dias frios e chuvosos. (…) Havia também um arquitecto genial que concebera um novo método de construir casas, começando pelo telhado e terminando nas fundações.1

Nas suas Viagens de Gulliver, Jonathan Swift narra a história de um médico aventureiro que viaja na época das grandes explorações marítimas, encontrando novas ilhas e comunidades fantásticas que satirizavam a sociedade europeia da sua época. Poderíamos ler estas terras de geografias inventadas e sem lugar (utopias), como espelhos deformados do mundo. Em Balnibarbi, região sob o jugo de Laputa (a ilha flutuante), funciona uma academia de inventores e cientistas ocupados em descobrir como funcionam todas as coisas no mundo.
O acto criativo faz do Homem um ser voltado para a construção do futuro, modificando o seu presente. É aqui que pensamento artístico e pensamento utópico se relacionam. Arte e utopia dão resposta à vontade do artista que, tal como o inventor, amplia o real a partir das suas obras artísticas que são as suas máquinas de imaginar.
Sete alunos de Artes Plásticas (mestrado e licenciatura) estarão em residência na RAUM por um mês. Virão a público seis projectos que reflectem os seus modos e os seus espaços de produção artística, distintos e particulares. No entanto, todos usaram como medida o impulso para utopia na aproximação ao acto criativo.1 Swift, Jonathan (1726), Viagens de Gulliver, Relógio d’água, Lisboa, 2010

Constança Bettencourt Espaço Comunicante Decidi criar um objecto utópico que serve de pesquisa e orientação. É composto por materiais trouvé - uma relha (parte do arado que abre sulcos na terra) e uma estrutura de uma antiga janela. Existe a dualidade entre o terreno, cru, o real vs o sonho, o acesso, o caminho. A janela como frecha, relacional, o céu e a relha como peso, a ligação à terra.

Pedro Brito & Ema Gaspar Hocera Propusemo-nos criar um mapa de um lugar imaginário em que as referências e as sensações que o habitam se sobrepõem, como no processo criativo.

Kevin Claro Chewing Gum “Chewing gum” é uma performance documentada em vídeo, exteriorizando um dos processos implicados na procura do eu. A imagem é como um resíduo da constante reinvenção e desvendamento do eu. Ou será apenas a representação de uma imagem?

Patrícia Henriques Soft Touch Breves animações construídas a partir de imagens retiradas da revista “The National Geographic Magazine”. As imagens originais são alteradas, tornando-se manchas e linhas coloridas.

Guilherme Silva Objecto-erro 24 frames por segundo, o objecto apenas existe num presente construtivo, processual - a sua linha temporal é real, é live stream.
Tento dar forma ao som, a forma do som como eu a entendo. Como funciona individualmente o erro e como funciona ele integrado numa rede de natureza errática?

Pedro Lira Bloco Errático Reconhecer simultaneamente, na fenda entre ficção e realidade, a estranheza e a familiaridade nos gestos e resultados de Outro. Como um bloco errático, que se fixa num contexto totalmente diferente da sua génese, o performer delegado enquadra-se e estabelece-se legitimamente através da práxis, colocando em questão não só a autoria como a essência do objecto final.

×