Este é um dos vários mapas imaginários e incompletos que se conhecem de um arquipélago formado ao longo de vários anos, entre o Alentejo e os Açores. Existem, evidentemente, muitas variantes deste mapa de correntes: algumas coordenadas podem ser encontradas no arquivo, do qual cada versão do mapa é um guia alternativo; outras referências estão perdidas, não se encontrando actualmente mais do que transcrições traduzidas de relatos em segunda mão. Os habitantes destas ilhas residem no Doc’s Kingdom (não é o “reino do documentário”, mas uma referência ao filme homónimo que Robert Kramer realizou em Portugal): ao longo das onze edições do Seminário Internacional sobre Cinema Documental realizadas desde 2000, em Serpa, no Faial e no Pico, alguns deles, como Erika Kramer, regressaram várias vezes ao lugar de encontro; outros não chegaram a cruzar-se, mas participam entretanto numa conversa em várias línguas que nunca teve lugar. O mapa é um pequeno depósito de mentiras; uma rádio-grafia que extraiu cada voz de um fluxo vivo colectivo. Nas várias ilhas, discutem-se os mais diversos domínios: política, etnografia, arte, literatura, economia, cinema, documentário, ficção... Junto a um vulcão, justifica-se mais uma vez “a ideia de deslocarmos as pessoas para este lugar”. No centro do arquipélago, a conversa centra-se nas relações entre a mentira e a verdade, a imagem e a História, a imponderabilidade do presente, os elementos do cinema. Mas não chegamos a ouvir Sergei Dvortsevoy repetir (o que disse em Serpa, à segunda jornada do primeiro encontro, no dia 12 de Outubro do ano 2000) que “cada corte é uma mentira, e depois… em cada corte matamos a vida…” Entre dois cortes, quem fala reúne toda a comunidade, como um lugar pode condensar toda a memória do mundo. O museu, o umbral, o pátio ou a espiral são alguns desses lugares que se podem encontrar neste mapa.
We were tired of the voice of God [6’40]
David MacDougall sobre Under the Men’s Tree (1973, 15’) e Lorang’s Way (1979, 63’)
Everything is one [25’14]
Cynthia Beatt, Rudolf Thome, José Manuel Costa, Federico Rossin, Stephanie Spray e Pacho Velez, sobre Beschreibung einer Insel (1979, 192’) e Manakamana (2013, 118’)
Io sono stato sempre dalla parte dei perdenti [1’45]
Giuseppe Morandi sobre I Paisan (1956-91, 128’)
Di fianco, in faccia [3’10]
Giuseppe Morandi sobre I Paisan (1956-91, 128’)
Abbasso la guerra, viva la pace [2’06]
Giuseppe Morandi sobre I Paisan (1956-91, 128’)
Uma pessoa colectiva [17’55]
Eduarda Dionísio sobre Giuseppe Morandi
Risk taking [3’51]
Erika Kramer sobre Balaou (2007, 77') de Gonçalo Tocha
Slowing down [2’58]
Erika Kramer sobre Natureza Morta (2004, 72’) de Susana de Sousa Dias
Walking in and out [4’52]
Erika Kramer sobre Birth of the Seanéma (2004, 70’) de Sasithorn Ariyavicha
Looking down [5’51]
Erika Kramer e Robert Fenz sobre Vertical Air (1996, 26’)
Staying clean [3’20]
Erika Kramer sobre Qu’il reposent en revolte (des figures de guerre) – work in progress (2009, 60’) de Sylvain George
Bringing films together [3’31]
Erika Kramer sobre Ruínas (2009, 60’) de Manuel Mozos e California Company Town (2008, 77’) de Lee Anne Schmitt
O primeiro impulso [1’46]
Gonçalo Tocha sobre Balaou (2007, 77')
Tout cela se fait sans raison [5’34]
Jean-Claude Rousseau e Cyril Neirat sobre La Vallée Close (1995, 140’)
Muito tempo à procura [3’12]
Susana de Sousa Dias sobre Natureza Morta (2004, 72’)
Cinema-mensonge [3’54]
Edgardo Cozarinsky sobre La guerre d’un seul homme (1982, 105’)
Don’t trust those films [2’32]
Hartmut Bitomsky sobre Deutschlandbilder (1983, 60’)
A collection of things that speak to each other [1’58]
Lee Anne Schmitt sobre California Company Town (2008, 77’)
Uma espécie de arquivo do que eu não consegui fazer [1’36]
José Manuel Costa e Manuel Mozos sobre Ruínas (2009, 60’)
Uma montagem de mentiras e de verdades [7’21]
João Mário Grilo sobre O Tapete Voador (2008, 56’)
O resto [6’21]
Miguel Gomes sobre Aquele Querido Mês de Agosto (2008, 150')